Ao ler o título deste artigo você pode estar pensando que sou mais um fundamentalista religioso que defende o cristianismo com “unhas e dentes”, e que não tem a mente aberta para outra visão de mundo que não seja o cristianismo.
Antes de fazer um pré-julgamento, peço que acompanhe até o final esta minha breve análise, para ver que minha afirmação é baseada naorigem dos valores morais e que não estou sendo fanático e nem arrogante. Negar que há ateus com uma vida moral exemplar é absurdo, e sei que há também agnósticos que fazem mais o bem pela sociedade do que muitos religiosos.
Portanto, o que questiono não é se o ateu pode ou não ser bom. Se eu questionasse isso mereceria ser processado por difamação e até mesmo sofrer disciplina eclesiástica por dizer “falso testemunho” contra meu próximo (Ex 20:16). O meu pressuposto é que o ateu precisa de Deus ser ele quiser justificar a própria bondade. Como assim? Vou explicar.
Se Deus não existe, um ateu não possui um padrão moral objetivo para definir o que é certo ou errado. Se a moralidade é algo “relativo” ou determinado apenas por convenções culturais, como um descrente pode alegar que Adolf Hitler estava errado em massacrar milhares de judeus?
Sem o Criador da moral, que padrão objetivo pode existir para eu definir que Madre Tereza de Calcutá era uma pessoa melhor do que Hitler, por exemplo?
Muitos ateus são defensores dos animais por que acreditam ser errado maltratar aos animaizinhos. Mas, se Deus não existe, que base tem um ateu para condenar as touradas, em que milhares de animais são torturados para “dar prazer” a um público que não tem o verdadeiro amor pela natureza?
Afinal, se a moralidade é definida pela sociedade, então matar tantos touros puramente por prazer é algo bom para as sociedades que a praticam e, assim, um incrédulo ficará sem argumento algum para defender a vida animal em todas as culturas de nosso planeta.
Analisaremos um pouco mais essa questão da moralidade no decorrer deste artigo, para que não restem dúvidas na sua mente de que ser ateu é muito incoerente, caso a pessoa realmente se preocupe em justificar a própria bondade.
O ARGUMENTO MORAL NA BÍBLIA
Romanos 2:12-15 nos mostra que a Lei Moral foi implantada por Deus no coração de todos os seres humanos, até mesmo pagãos. Não é por acaso que, mesmo um ateu não acreditando na Bíblia, ele faz questão de seguir os princípios morais que estão na Bíblia. Leia o texto a seguir:
“Todo aquele que pecar sem a Lei, sem a Lei também perecerá, e todo aquele que pecar sob a Lei, pela Lei será julgado. Porque não são os que ouvem a Lei que são justos aos olhos de Deus; mas os que obedecem à Lei, estes serão declarados justos. De fato, quando os gentios, que não têm a Lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a Lei; pois mostram que as exigências da Lei estão gravadas em seu coração. Disso dão testemunho também a sua consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os.”
As leis morais são valorizadas pelas pessoas de diferentes épocas, culturas e nível intelectual. Por exemplo: tanto o cristão quanto o ateu, muçulmano, índio, judeu, hinduísta, budista, xintoísta (etc.), apesar de possuírem visões de mundo diferentes, acreditam que é errado fazer sexo com a própria mãe. (Sei que há algumas exceções).
Tem que haver uma mente moral suprema que defina essencialmente o que é certo ou errado e que tenha implantado isso em todos. Sem um Legislador (Tg 4:12) não existe, os princípios morais dos Dez Mandamentos, registrados em Êxodo 20:3-17 (Cf. Dt 5:1-21).
Consequentemente, o mundo vira uma bagunça (pior do que já é), pois, cada ser humano poderia definir quando é certo matar, o que é e o que não é adulterar, o que é e o que não é roubo, o que é e o que não é cobiça, e por aí vai.
Portanto, não há padrão moral objetivo sem Deus e um ateu ou agnóstico precisa provar que certos conceitos morais absolutos surjam através de processos macroevolutivos, sendo que na macroevolução, através de seu conceito de seleção natural, não há lugar para moral objetiva. É tarefa para o descrente justificar a existência de um código moral no interior do ser humano, sem a existência de um Legislador (Cf. Is 33:22) para implantá-lo.
ALGUNS ARGUMENTOS ATEÍSTICOS CONTRA A ORIGEM DIVINA DA LEI MORAL
A argumentação ateística é variada e, ao mesmo tempo, insustentável. C. S. Lewis, ex-ateu e que se tornou um dos maiores defensores do cristianismo, refutou cada um desses argumentos em seu livro Cristianismo Puro e Simples (Parte 1), publicado no Brasil pela Martins Fontes. A seguir, apresento uma curtíssima “paráfrase da paráfrase” da refutação a cada um dos principais argumentos ateus. A paráfrase original você poderá ler em Norman Geisler, Teologia Sistemática: Introdução à Teologia, (CPAD, 2010), págs. 32, 33.
- A Lei Moral é um instinto coletivo: A lei moral não pode ser o resultado de algum tipo de instinto coletivo, senão o impulso mais forte dentro de nós, que nos levasse a fazer coisas más, sempre sairia vitorioso. Além disso, todos os nossos instintos sempre seriam certos e sabemos que isso está longe de ser verdade.
- A Lei Moral é uma convenção social: Nem tudo o que se aprende por intermédio da sociedade está baseado em convenções sociais como, por exemplo, a matemática ou a lógica. Da mesma maneira, a Lei Moral também não é norma social, pois, se o fosse, as mesmas leis morais não teriam existido praticamente em todas as sociedades, passadas e presentes.
Quando as pessoas falam em “relativismo moral”, não é difícil levá-las a concluir que essa afirmação é na realidade da boca para fora. Pergunte a elas o que pensam da prática hindu em queimar viva uma viúva no funeral do marido. Leve-os a pensar se o abuso infantil pode deixar de ser abuso “dependendo da sociedade” sendo que, não importa em que contexto tal criança viva, ela sempre será prejudicada pelo abuso. Esse tipo de coisas sempre será errado.
O relativismo moral é injustificável, inconsistente, inconsequente, ilógico, improvável e fruto de uma consciência confusa por não ter Deus na vida. Em suma: o relativismo moral é uma aberração, uma ofensa à inteligência e um verdadeiro “culto” prestado à insensatez.
Portanto, a Lei Moral é algo intrínseco ao ser humano, e se os valores morais sempre existem, logo, Deus existe. Apenas um Ser Moral que transcenda a sociedade pode dar razão para a existência de princípios morais universais, pois, nas diferentes culturas, há práticas amorais (exemplo: queimar uma viúva viva durante o velório do marido) que só podem ser condenadas se existir Deus como padrão moral absoluto e transcultural.
- A Lei Moral faz parte das leis da natureza: A Lei Moral não deve ser identificada com as leis da natureza por que estas últimas sãodescritivas (são) e não prescritivas (deveriam) como o são as leis morais. Não devemos confundir as duas leis.
- A Lei Moral é um capricho humano. Essa afirmação é falsa por que não podemos nos livrar da lei moral, inclusive nas situações em que o se livrar dela seria “interessante” para nós. Além disso, se fosse um capricho humano, todos os juízos e valores perderiam o seu significado, inclusive as afirmações: “é errado matar”; “o racismo é errado”.
- A injustiça desabona o Legislador Moral: a principal objeção ateística contra a existência de um Legislador Moral perfeito é a existência do mal. Os ateus alegam que, se o mundo é imperfeito, não pode existir um Deus absolutamente perfeito.
C.S Lewis deu uma resposta ao ponto quando argumentou que a única forma pela qual poderíamos saber se o mundo é imperfeito, é tendo um padrão absoluto de justiça para que possamos compará-lo com as injustiças do mundo, para sabermos que elas são realmente injustiças! Leia essa análise nas palavras do próprio ex-ateu:
“O meu argumento contra Deus era que o universo me parecia demasiadamente cruel e injusto. Mas de onde foi que tirei esta ideia de justo e injusto? Um homem jamais pode afirmar que uma linha é torta se não tiver algum tipo de noção do que é uma linha reta [...] Assim, na minha própria tentativa de provar a inexistência de Deus – em outras palavras, que a realidade como um todo era sem sentido -, descobri que eu era forçado a considerar que uma parte da realidade – ou seja, a minha ideia de justiça – estava cheia de sentido. Consequentemente, o Ateísmo passou a ser demasiadamente simplista para mim” (Lewis, Cristianismo Puro e Simples, capítulos 45, 46, da versão inglesa).
Portanto, o mal que existe no mundo, longe de provar que Deus não existe, pressupõe a existência dEle, pois, se Deus não existisse com Seus padrões morais absolutos, como saberíamos o que é o mal?
Novamente precisamos passar a responsabilidade ao ateu em provar que preceitos morais podem surgir como fruto do acaso cego e não através de um preceptor. Se alguém tem que provar algo é o ateu, dando-nos boas razões para a não existência de Deus, a não existência do Legislador da Lei Suprema que está dentro de cada um de nós.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acreditar em Deus não é algo necessário para a moralidade, pois, os descrentes também reconhecem que todos devem amar os filhos, por exemplo. Porém, Deus é necessário para que uma Lei Moral objetiva possa existir.
Um ateu pode ser bom mesmo não crendo em Deus, mas, não pode ser bom sem Deus. Afinal, precisa de uma base para a ordem moral, e para justificar o que pensa ser amoral, se quiser ser coerente consigo mesmo e com a vida.
Por isso, o filósofo William Craig pôde concluir com precisão:
“Não, nós não podemos ser verdadeiramente bons sem Deus; mas se nós podemos ser bons, em alguma medida que seja, então se segue que Deus existe” (William Lane Craig, Em Guarda: Defenda a fé cristã com razão e precisão. São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 159).
No site deusemdebate.com você poderá ter acesso à breve explanação do Dr. Craig sobre o argumento moral, e que foi suficiente para mostrar a incoerência do ateísmo. Acesse o link a seguir, assista aos demais debates disponíveis, e tire suas próprias conclusões com honestidade intelectual, sem justificar as preferências intelectuais: http://www.deusemdebate.com/2010/03/o-argumento-moral-william-lane-craig.html
Despeço-me com uma citação que extraí do livro Always Prepared, e que servirá de reflexão e ajuda para a compreensão da importância de uma origem moral absoluta, para que possamos ser coerentes em nossas crenças sobre o que é certo e errado:
“Como um navegador que começa a se guiar a partir das estrelas para que ele possa navegar à noite, precisamos de alguns pontos fixos pelos quais possamos nos orientar moralmente, algo fora de nós mesmos. A Palavra de Deus como verdade fornece esses pontos fixos de orientação moral. A declaração de Jesus “Tua Palavra é a verdade” (João 17:17) implica a revelação dessa verdade, e se a revelação for possível, absolutos morais são possíveis. Verdade moral não é construída, é revelada; é descoberta e não determinada por um voto da maioria. É autoritária (vem de Deus para nosso próprio bem e felicidade) e não meramente uma questão de preferência pessoal.” (Humberto M. Rasi e Nancy J. Vyhmeister, editores. Always Prepared: Answers to questions about our faith. Ontario, Canadá: Pacific Press Publishing Association, 2012, p. 133).
Um abraço!
[www.leandroquadros.com.br]
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